ISTVÁN JANCSÓ
István László Gyula Endre Jancsó d´Eszteknek
Nasceu a 6 de novembro de 1938, em Jiskole.
Nascido na Hungria, sua família, proveniente da Transilvânia (atual Romênia), estabeleceu-se no começo do século XVIII no que hoje é a Eslováquia. Seu pai era oficial do exército húngaro e lutou na frente russa durante a Segunda Guerra, quando a Hungria era aliada ao Eixo. "No fim da guerra, meu pai não quis voltar para o país e optou pela emigração. A Hungria dele havia acabado. Essas foram as suas palavras". Assim a família, "com dois filhos e nenhum recurso" e sem conhecer a língua portuguesa, emigrou para o Brasil, em 1948.
Ingressou na Universidade de São Paulo em 1960, no curso de História, onde foi aluno de Emília Viotti da Costa, Fernando Novais, Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido e Florestan Fernandes. Graduou-se em 1963 e logo foi convidado pelo professor Eduardo de Oliveira França para dar aulas de História Moderna e Contemporânea na USP, onde lecionou desde março de 1964 até 1966, quando aceitou um convite para ensinar na Universidade Federal da Bahia. Já na vigência do regime militar no país, mudou-se para Salvador, onde lecionou na UFBa (de 1966 a 1971) e onde nasceram seus dois filhos. Nessa época, passa a participar clandestinamente do movimento sindical e acaba por ter que sair do Brasil. Vai para a França, onde frequentou os seminários de Pierre Vilar e foi contratado para dar aulas na Universidade de Nantes (1971-1972).
Decidiu voltar ao Brasil, antes de concluir sua tese, decidido a continuar sua militância política, em pleno governo Médici. Pouco mais de um ano depois, foi preso em Ijuí, no Rio Grande do Sul. Seu apartamento no Rio de Janeiro foi então revirado pelas forças da ordem e vários documentos foram levados, inclusive os originais de sua tese, já pronta. Na prisão, em consequência das sevícias sofridas, perdeu parcialmente a audição.
Em 1989, volta ser professor da USP (mediante concurso público), onde irá coordenar o Centro de Apoio à Pesquisa Histórica e dirigir o Instituto de Estudos Brasileiros e o Projeto Temático Brasil: Formação do Estado e da Nação. Criou a revista eletrônica Almanack Brasiliense, dedicada à publicação de estudos sobre a história da América portuguesa, a partir de meados do século XVIII, e do Império do Brasil. Finalmente, a grande aventura final de sua vida foi dirigir o Projeto Brasiliana USP - a incorporação da Biblioteca Guita e José Mindlin ao acervo da USP.
Jancsó concebeu todo o projeto da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, da qual foi o primeiro diretor. Coordenava o processo de digitalização das obras doadas pelo bibliófilo José Mindlin (1914 - 2010) e a construção de uma biblioteca para abrigar fisicamente o acervo. Mas não pode concluir o projeto.
István Jancsó faleceu em 2010, aos 72 anos, em consequência de complicações renais decorrentes de um câncer. A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin foi inaugurada em 23 de março de 2013, exatamente três anos após a morte do historiador.
Ver a extensa bibliografia do autor em: https://pt.wikipedia.org
ANTOLOGIA DOS NOVÍSSIMOS. São Paulo: Massao Ohno Editora, 1961. “Coleção dos Novíssimos” vol. 9. Capa de João Susuki. Ex. bibl. Antonio Miranda
“Ouço risos à minha volta
Respondo a perguntas,
Mas sinto que estou
Sozinho.
Ostento um sorriso absurdo,
Simples contração de músculos da face,
Mas fitando a todos não fito ninguém
E meus pensamentos vagam no espaço,
Longe da música,
Longe dos risos.
Afastados da mediocridade que me coroa,
Percorrendo caminhos abstratos
Que são apenas meus
E que ninguém pode percorrer,
Pois eu sou eu
E os outros são os outros.
Posso não ser melhor do que eles
Apenas ser diferente.
Não me compreendem
Nem querem compreender-me.
Meus pensamentos pertence a outra esfera,
Meus ideais são mais elevados
Pois fogem da realidade obscura do cotidiano
Vivo com eles.
Mas as suas lutas não são as minhas
E as suas dores não me afligem.
A convivência forçada me cansa
Pois não encontro contatos espirituais
Que me satisfaçam.
Não tenho coragem de deixá-los.
Temo que o isolamento físico
Sobrecarregue o espiritual.
Por isso sorrio sem sorrir,
Respondo a perguntas,
E percorro caminhos abstratos
Que são apenas meus
Pois eu sou eu,
Sozinho.
RECORDAÇÃO DA PRAIA GRANDE
Três traços brancos com fundo azul
Três histórias com fundo azul
De manhã
Pois já à tarde o fundo era verde
E se de manhã eram três
Só restou o fim de uma história com o fundo azul,
E quando chegou a noite
Com o fundo negro
Não havia mais nenhuma história
Apenas três traços na areia branca
Da praia.
E na manhã seguinte
Não havia mais nada
Sobre o fundo azul.
Nem traços
Nem histórias
Nem o fundo era mais azul:
Era cinza escuro.
DESPEDIDA
As gaivotas voltaram.
Mas a sua volta não foi triste
Como eu esperava,
Nem alegre como eu esperava.
Para mim apenas voltaram.
Gaivotas.
Não fui vê-las apesar de espera-las.
Sabia que voltariam um dia.
De início ansiava por sua volta,
E sonhava com a sua volta,
E olhava o horizonte
Quem as traria de volta.
Procurava lembrar-me da despedida
E lembrei-me de que não houve despedida.
O tempo foi passando,
Foi passando,
Lento primeiro,
Rápido depois.
E eu me assustei com o passar do tempo.
Para que forçar o tempo?
Eu sabia que elas voltariam.
Mas o tempo foi passando,
Passando,
Correndo,
Voando.
Comecei a sentir medo de sua volta.
Voltariam com quem?
Para quem?
Por quem?
E procurava as respostas
De dia,
De noite,
E buscava
E não encontrava.
E perdi o medo,
Mas sabia que elas voltariam
Com alguém,
Para alguém,
Por alguém.
Mas já não sentia medo das respostas.
Não sentia medo
Nem ansiedade,
Apenas esperava.
Esperava.
Porquê?
Por hábito talvez.
Habituei-me a amá-las,
A sonhar nas suas asas,
A voar com elas.
Elas partiram mas o hábito ficou.
Hábito de esperá-las de volta.
Daquela partida sem despedida.
As gaivotas voltaram.
Não fui vê-las
Apesar de esperá-las.
Sinto que a sua volta
Significa para mim
A triste despedida que não houve.
*
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Página publicada em junho de 2021
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